terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Folclore Oculto: 3º Episódio P/1

Olá leitores. Quem aí gosta de Romance? (eu... que não). É, eu particularmente, não gosto, mas como meu foco são leitores diversos, tenho que colocar de tudo em minhas historias. Esse Ep de Folclore Oculto terá um toque romântico, mas o humor e aventura com uma pitadinha de terror prosseguirão, então espero que gostem.

O Encanto do Mal.


parte

Depois da noite anterior, Lia parecia mais preocupada, chegou a perguntar para onde Núbia iria, e a resposta foi simples: vou andar e assim foi. Núbia caminhou pelo bosque a procura de Cissa. Depois do que passaram juntos, lutando contra a Mula-sem-cabeça, não se podia mais dizer que Cissa era só um conhecido, ele tornara na verdade seu melhor amigo.
A garota fora até a cachoeira do lago límpido, onde Cissa a levou alguns dias antes, mas não o encontrou, ao invés disso, visualizou o garoto mais belo que já vira em sua vida. Ele nadava no lago, e quando se levantou o sol bateu em seu corpo. Não dava para saber a cor do cabelo, mas era uma bela cor, nem a dos olhos, mas era bonito. Núbia sequer conhecia o garoto, porém estava encantada. Ela se agachou atrás de uma pedra e ficou observando-o. Sem querer pisou em um galho seco, o que chamou a atenção do rapaz.
_ Quem está aí¿
A voz dele também era inexplicavelmente perfeita. Ele deixava Núbia nervosa, ela queria e não queria falar com ele, então resolveu fugir. Ela correu um pouco, mas sem resistir em olhar para trás e acabou tropeçando, o que a fez rolar em uma depressão na mata. Quando conseguiu se levantar, e tirar algumas folhas da cabeça, voltou a caminhar e logo se deparou com uma cabana de madeira.
Nem é necessário assistir muitos filmes para saber que cabanas no meio do mato não é algo legal, mas ainda sim, Núbia não resistiu e foi bisbilhotar o local.
A porta estava aberta, parecia um local antigo, mas não abandonado, na verdade, até era bem agradável. O interior da casa era amplo, com pouca coisa. Somente um sofá num lado, uma mesa com três cadeiras de madeira velha e uma estante do mesmo material do lado oposto com diversos objetos. Havia mais um cômodo, mas só a estante já atraiu Núbia. Eram tantos objetos: imagens de barro meio quebradas, talheres diversos, algumas correntes e algemas parecidas com aquelas usadas na época da escravidão, e em um local reservado, havia uma cachimbo empoeirado, mas colocado na estante com carinho imenso. Núbia ia tocar no cachimbo quando alguém atrás disse:
_ É, você me achou.
Lá estava Cissa encostado na porta.
_ É aqui que você mora? _ perguntou Núbia com olhar de estranhamento.
_ É sim, por quê? Até parece que há algo errado com pessoas que moraram em cabanas no meio da mata. _ Antes que Núbia dissesse algo, Cissa levantou uma mão _ por favor, sem comentários.
Núbia riu.
_ Está bem. Mas então, o que são essas coisas? _ disse ela apontando para estante.
_ Coisas legais. Eu as encontrei ao longo da vida, achei bonito e peguei para mim.
_ Achou ou roubou? _ perguntou Núbia.
_ E não é a mesma coisa?
Núbia resolveu nem comentar. Então a imagem do garoto do lago veio a sua mente e ela sorriu.
_ Do que tá rindo _ disse Cissa ao seu lado. Núbia levou um susto.
_ Você tem que parar de aparecer do nada!
_ Ah não, eu gosto e com o tempo você se acostuma _ disse Cissa, e Núbia bufou. _ Mas e aí, do que estava rindo.
_ Eu só sorri. É que lembrei-me de um garoto simplesmente lindo que vi hoje no lago.
_ Podia ser eu _ disse Cissa. _ Por que eu sou lindo.
_ Não, não era você.
Cissa revirou os olhos.
_ Tá então _ disse ele de braços cruzados. _ Que se sentar? _ disse ele apontando para o sofá.
Núbia deu de ombros, assim ambos sentaram-se.
Infelizmente, Cissa cometeu o erro de perguntar como o tal garoto era, e depois Núbia não parou mais de falar. Dizia o quanto o rapaz era lindo, maravilhoso, enquanto Cissa passava a mão no próprio rosto começando a ficar entediado e nervoso. Até que a interrompeu e a fez perceber que em nem um momento disse exatamente como era o rosto do rapaz, e Núbia admitiu não fazer ideia de como era tal.
_ Então como pode gostar tanto dele? _ exclamou Cissa. _ Menina você não percebe. Está diferente, parece encantada por ele e não é um encanto comum, digo encanto de magia mesmo, bruxaria na verdade.
_ Que? Cissa do que está falando?
Cissa revirou os olhos.
_Sério, eu tenho que te emprestar livros de folclore, você não sabe de nada, menina! Acorda, esse cara que você viu só pode ser o Boto.
Núbia levantou uma sobrancelha.
_ Pra mim você está é com ciúmes _ disse Núbia.
Cissa rosnou e se levantou revoltado.
_ Ciúmes? Ah, fala sério, eu estou pouco me importante por quem você se engraça ou não. Só estou te avisando de algo sério.
_ Que estou encantada pelo Boto? Que idiotice Cissa.
_ Idiotice? Depois de tudo que vimos, de tudo que já lhe salvei, você ainda não acredita em mim?
_ Acredito, mas não consigo pensar que o garoto que vi mais cedo seja uma ameaça!
_ Por que está enfeitiçada!
Núbia revirou os olhos, Cissa estava lhe irritando, mais do que de costumeiro. Ela resolveu ir embora, sem dizer nada, mas Cissa pegou em seu braço.
_ Ei, onde pensa que vai? _ perguntou ele.
_ Não te interessa, só me largue!
Cissa negou com a cabeça.
_ Não enquanto você não me ouvir. Senta aí _ disse Cissa empurrando a menina no sofá.
_ Cissa! _ disse Núbia nervosa. _ Seu grosso!
Cissa que estava de pé, sentou-se ao lado da menina.
_ Desculpa, às vezes é mais forte que eu, gentileza não é algo que Deus me deu _ ele então olhou para cima. _ Se é que ele me deu algo. Mas olha. Eu só quero lhe proteger. O boto não é só o rapazinho bonitinho que se conta nas histórias, na verdade as criaturas do folclore foram muito infantilizadas com o passar do tempo, uma droga, mas as histórias reais sempre são cheia de sangue, violência, e crueldade. Então acredite, o boto não é legal.
_ A lenda diz algo sobre... ele engravidar as indígenas, não é? _ disse Núbia.
_ É, por aí, mas não são só as indígenas, são todas que ele vê e acha interessante, e você é interessante _ disse Cissa com seu sorriso sapeca, mas com o fuzilar dos olhos negros de Núbia seu sorriso sumiu. _ Está bem, sendo mais direto: Ele inicialmente encanta a moça de forma natural, mas depois, se esta beija-lo será submetida a quase uma escravidão! Ela realmente vai fazer tudo que o boto pedir, tudo mesmo e depois, quando ele se cansar vai desfazer o feitiço e a menina volta normal, e lembra somente de algumas partes do que aconteceu, ou não, com ela enquanto estava hipnotizada, mas daí também já é tarde, ela pode já estar gravida contra a vontade e... bem, já vi muitas garota sofrerem muito com isso.
Núbia estreitou os olhos.
_ Você quer dizer que o boto não seduz elas como nos contos, ele... as abusa.
Cissa assentiu.
_ Isso é horrível Cissa! _ disse Núbia por fim.
_ Sem duvida é, por isso você tem que me ouvir, e ficar o mais distante possível do Boto.
Um lado de Núbia acreditava no que Cissa dizia, outro não conseguia temer o rapaz que vira no lago, isso tudo só lhe deixava mais confusa. Porém em um estouro de pensamentos inexplicáveis, Núbia se viu brava com Cissa, não sabia de onde vinha tal raiva, só a sentiu e a expos.
_ Você está louco Cissa! Quer que eu sempre confie em você, mas nunca me diz nada a seu respeito. Você mora numa cabana isolada, no meio do nada, aparece e desaparece quando convêm, parece conhecer todos os monstros desse local, mas você pode até ser um deles!
Cissa levantou as sobrancelhas incrédulo e Núbia em um momento de impulso simplesmente saiu em disparada, Cissa tentou para-la, mas não houve como.
_ Sua Louca! _ exclamava ele enquanto a via correndo bosque adentro. _ Não confia em mim, tudo bem, mas não diga que eu não avisei! Espero que morra também.
Logo os avisos e insultos de Cissa ficaram distantes, Núbia correu mata a adentro, mas sem rumo certo, sua mente girava em devaneios, tudo lhe parecia um pesadelo, como se nada até então fosse real. Sentia uma raiva que fervia em seu peito, mas não entendia por quê. Seus sentimentos estavam confusos e a as ideias também.
Logo se viu na beira do lago límpido outra vez, não sabia exatamente como chegara ali, mas resolveu sentar-se numa pedra qualquer para descansar e ao menos tentar clarear as ideias.

_ Olá _ disse uma voz logo atrás.

Comentem! BJS e até a próxima.

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